Pena...e Fim.

Ela era perfeita.Os olhos certos,e os cabelos loiros e longos.A pele bronzeada e a mente aberta!Livre,desempedida e disponível.Interessante e...interesada demais.Um corpo arquitetado para o amor e a luxúria,para as noites mais tórridas de aventuras e desejos.Ela era perfeita.Tão perfeita que despertava desconfiança.Nem tanto pela sorte de tê-la,afinal,ele poderia tê-la.Ele era um homem inteligente e agradável,talentoso com as palavras e bem humorado.Sim,ele poderia tê-la.Ele tinha um físico atraente,um belo sorriso e uma voz bonita.Falava bem e com eloquência.Eles falavam da proximidade de onde viviam,dos gostos,da vida.Ela tinha até mesmo,uma profissão compatível com a dele.Era caseira como ele...Era a mulher perfeita.Perfeita demais para ser verdade.Mas ainda assim,ele permanecia só e triste por dentro.Havia nele um não sei quê de melancolia.Uma falta,uma agonia.Mesmo desconfiado,ele seguiu adiante.Alimentou aquela mulher estonteante com as palavras que ela desejava ouvir.E ela respondia à tudo com firmeza,sem pestanejar nem dar espaço para que se instaurasse qualquer dúvida quanto às suas pretenções.Ela era franca.Queria tudo com ele.O que ele quisesse.Direta.Madura e dona de sí.Ela era perfeita.Perfeita...menos por um detalhe.Pela pressa.Havia nas palavras algo conhecido.Por ele conhecido.E a desconfiança é um sinal de que as coisas humanas são mesmo assim.Críveis e in-críveis!!Ele pensou:"Não...não pode ser que essa mulher que se atira à mim de maneira tão descuidada e tola ,seja de alguma forma,uma máscara de uma outra farsa conhecida!!!Não...Não pode mesmo ser isso"...Ele se lembrou de uma palavra familiar,pouco usada,que ,no contexto da aproximação primeira já lhe havia sucitado estranheza.Familiaridade.Coisas que um diz,e só esse um pode voltar a dizer.Entre em contato "no caso de emergência"!!Isso era típico de outra pessoa.Mas não...não pode ser que...vamos ver!
E ele continuou a dizer as coisas que regozijavam aquela pobre mulher infeliz.E ela se inflava de desprezo por ele,sempre de modo contido ,enquanto sua personagem patética se fingia de extasiada e entregue aos seus encantos.Ele decidiu ,uma vez que a máscara usada por ela,deflagrava cada vez mais a sua pouca habilidade e inteligência,que seria melhor levar o jogo até o seu epílogo.Decidiu fazer daquela pantomima a última carta na mesa.O último suspiro do que um dia havia sido importante .
E assim ,cheia de sí e de insanidade...como que numa cena de novela mexicana,ela decide revelar a sua identidade secreta ,dando assim o golpe fatal naquele homem desprezível.
Nossa!!!Não pode ser!!!Era ela,a outra criatura todo o tempo!!!Como ele foi tão ingênuo e burro!Logo ele!!Ele que conhecia a alma daquela mulher!
E como foi tola aquela mulher.Como se fosse difícil perceber a sua personalidade por trás das palavras de sempre.Já era mesmo tempo de um personagem qualquer aparecer para ele.Já haviam aparecido outros antes dela,e ele sabia que ela iria aparecer um dia.Restava uma esperança de que não...Mas ,por fim,apareceu.Nenhuma outra teria sido tão descuidada ,à ponto de se entregar tão facilmente.Foi a pressa que estragou o disfarce.Foi o furo na fantasia que revelava os sinais daquela cena mal ensaiada.Mas,era o que ela precisava para seguir com a sua vida,e por fim,livrar-se do que tudo poderia ter sido.Ele sabia de tudo...todo o tempo...E a deixou morrer alí,em espírito...diante de seus olhos.Ele respirou fundo...e seguiu a trilha da sua vida...sem mágoas...sem dor...apenas um sentimento lhe ocorria naquele momento...pena...e Fim.

"Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar".Friedrich Nietzsche